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Crónica 2 – extraída de “Adágio”, nº14 – Novembro de 1982

Ainda não há muitos anos que a pessoa que vou referir deixou o número dos vivos e por tal razão deve estar ainda na recordação de muitos olivalenses, o qual tinha ligado a si dois casos curiosos, que gostosamente passo a relatar.

Concretamente, vou referir-me a José Ginó, nome pelo qual era conhecido, lembram-se?

Noutros tempos qualquer pessoa que tivesse a pouca sorte de ter sido mordida por um cão raivoso, tinha que ir a Paris receber o tratamento anti-rábico, pois a célebre descoberta de Pasteur ainda não tinha saído as fronteiras de França, ou pelo menos, ainda não tinha entrado nas de Portugal.

Deste modo, como era de Lei, os doentes iam a Paris com todas as despesas suportadas pelo nosso Governo.

Aconteceu que José Ginó fora mordido por um cão raivoso e a Paris se deslocou, nas condições referidas, para receber o tratamento adequado. Entretanto, convém dizer que o nosso Olivais de então sofria uma certa influência saloia que provinha das terras circunvizinhas, tendo por isso resultado que o nosso José Ginó se tivesse apresentado em Paris de barrete na cabeça, causando aí tal novidade, tal surpresa, que no hospital, onde ia receber tratamentos, foi logo alcunhado por “Jousé Bonet”, pois o nome barrete era aí desconhecido, visto ser uma peça de vestuário genuinamente portuguesa.

Mas este apodo não perdurou e caiu no esquecimento.

Todavia, o nosso personagem estava predestinado a ter um “apelido” de origem francesa e o Ginó confirma esta asserção, como se verá.

Dizia-se que o José Ginó, por ser de elevada estatura e aloirado, pele clara e rosada, olhos azuis, se parecia muitíssimo com o célebre general Junot, que comandou a 1ª divisão das tropas de Napoleão no nosso País, instalando-se em Lisboa e fazendo o seu Quartel General num belo Palácio existente no Largo Barão de Quintela, à Rua do Alecrim.

Pois por ser assim fisicamente tão semelhante ao referido General francês, passou a ser conhecido por José Junot e que o povo deturpou, passando a tratá-lo por José Ginó, nome que perdurou até final da sua vida, sem que, ao que parece, o aborrecesse.

Fica assim explicada a origem deste “apelido” do nosso conterrâneo, destacando o facto do nosso Ginó ser bem português e, afinal, vir a ter dois apelidos de proveniência francesa, sem que, verdadeiramente, alguma culpa tivesse.

M. Martins Alves