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A Tradição Musical … (2) – extraída de “Adágio”, nº10 – Julho de 1982

“Meu avô – prosseguiu o Sr. Joaquim Cardoso Alves – era um entusiasta destas coisas e, lá na fábrica, até tinha uma “casa de teatro… Hoje já nada disso existe. É claro que não tinha um grupo de teatro próprio. Contratava grupos de actores que não tinham casa certa e que vinham aqui dar espectáculos… Mas a banda trouxe-lhe bastantes dissabores e ele acabou por desistir dela; mas, quando eu já tocava na banda da S.F.U.C.O., ele voltou a inscrever-se como sócio e ainda era sócio quando morreu”.

“Ele até chegou a compor umas musicazinhas que eu tocava lá na Sociedade, nos bailes… Não sabia nada de harmonia, mas compunha a melodia e, depois, mandava-a ao mestre da banda para fazer a harmonização e usava sempre o mesmo estribilho: – Mestre Vieira, fiz esta melodia; meta os mandarilhos!…”

“O mestre Vieira, João Pedro Vieira era como se chamava, foi o primeiro mestre da nossa banda e foi também o autor do hino da nossa Sociedade. Se procurarem lá nos arquivos, hão-de encontrar composições dele. Conheci-o bem. Era um homem que sabia muito. Chegou a ser durante muitos anos subchefe da banda de Infantaria 5… Mas tinha um génio irascivel e parece que isso impediu a sua promoção a mestre… Desgostoso, pediu a sua passagem à reserva, mas era um grande artista!”

“Quando o mestre Vieira deixou a nossa banda, foi substituido por Alfredo Carvalho Garcia, que foi meu professor de solfejo e de instrumento, tinha eu 16 anos – prosseguiu o Sr. Alves – foi a 1920 Esse homem não era músico militar; tinha um curso da Academia dos Amadores de Música e era carpinteiro de machado no Arsenal de Marinha… mas parece que, naquela altura, já não pegava no machado e vivia mais da música do que de outra coisa… Esteve aqui ainda muitos anos…”

Entretanto, nos primeiros tempos da República, formou-se aqui outro agrupamento musical, que “até tinha um nome muito patusco”, como dizia o Sr. Alves: Fanfarra Ocarinista Republicana 5 de Outubro Olivalense (ver Adágio nº1).

“Eram umas 18 ou 20 ocarinas de vários tipos e formatos: sopranos, contraltos, tenores, barítonos, baixos… Mas era um conjunto que, ao ar livre, não resultava. Aquilo era muito engraçado para se ouvir numa sala. Acabaram por transformá-la numa fanfarra de instrumentos de sopro de bocal, mas sem percussão”. Não durou muito mais tempo e, hoje, nem da velha casa onde ensaiavam, A Calçadinha dos Olivais, já há vestigios.

Comentando a ausência de referências nas actas a vários acontecimentos politicos da época, diz-nos o Sr. Alves: “A Filarmónica teve sempre uma vida normal, porque houve sempre uma preocupaçao: a politica (partidária) fica à entrada da porta. Cada um tem as suas convicções, mas lá fora; cá dentro, a única politica é a Música e a Cultura”.

Helder Rodrigues